Neide Franceschini, nascida aos dezesseis dias
do mês de abril do ano de um mil novecentos e ... em Cascavel,
estado do Paraná. A segunda filha de Nelson Franceschini, construtor e Edi
Brust Franceschini, do lar.
Tive uma
infância pobre, mas fui feliz, pois, o que meus pais não podiam nos dar em
termos financeiros o fizeram dando amor, carinho, atenção e também muitas
palmadas, para que tivéssemos respeito, educação e formássemos nosso caráter.
Aos
sete anos comecei meus estudos no Colégio Santa Maria, um colégio particular, a
duas quadras da minha casa. Isso só foi possível por meu pai ter conseguido uma
bolsa de estudos quando da reforma do colégio, além disso, ficava depois da
aula para regar as plantas.
Porém,
não foi fácil, mesmo que não fosse conhecido o termo bullyng o ato já
acontecia, e não só por parte dos alunos, mas, também de alguns professores. Fui
vítima pelo simples motivo de ser uma das poucas alunas pobres em um universo
de mais de mil alunos que eram extremamente ricos. Em minha sala, na quinta
série, onde comecei a passar pelo bulling, era a única aluna sem recursos.
Fui
abrigada a falar corretamente, ou então era vítima de chacota a cada vez que
pronunciasse uma palavra errada, mesmo que os demais colegas também o fizessem,
seu dinheiro os tornava imunes.
Hoje procuro tirar algo bom de
cada experiência, vejo que melhorei muito meu vocabulário por conta desse
episódio. Síndrome de Pollyana? Talvez. Penso que é mais fácil ser assim do que
carregar rancor. Por esse motivo não admito que meus alunos pratiquem o bullyng
com os colegas.
Na
sexta série fui para uma escola pública, bem distante da minha casa e acabei
levando na brincadeira uma vez que meus conhecimentos eram maiores do que o dos
colegas. Resultado. Fui retida na série.
Mudei
de escola. A outra também era estadual. Lá refiz a sexta série e fiz a sétima.
Quando
passei para a oitava série, comecei a trabalhar de babá e voltei a estudar em
escola particular. Desta vez foi no Colégio Cristo Rei. Priorizei meus estudos
ao invés do consumo, pois foi o que meu pai me ensinou.
Algo
que marcou minha infância foi o fato de meu pai nos levar a igreja no domingo
pela manhã e após a missa comprar o jornal para que eu e meu irmão lêssemos
para ele, não que ele não soubesse, mas queria nos incentivar a ler. Essa
sempre foi uma atividade prazerosa para mim, uma vez que meu pai me elogiava.
Sempre que
recebíamos a visita de um vendedor de enciclopédia ele comprava para nós.
Também nos ajudava com as tarefas. Quando ouvia na rádio sobre cursos, pedia
qual de nós queria fazer. Sempre fui eu a fazê-los.
Quando acabei
o ensino médio prestei vestibular para Ciências Contábeis na FECIVEL, faculdade
estadual que hoje é a UNIOSTE. Fique como quinta excedente. Por questões
amorosas, no ano de 1989 resolvi me mudar para o estado do Mato Grosso, mais
precisamente Sorriso, a capital da soja. Após uma semana meu irmão me ligou
dizendo que tinha sido chamada na FECIVEL, mas decidi não retornar. Nessa época
contava com vinte e dois anos de idade.
Meu primeiro
trabalho, em Sorriso, foi na Prefeitura Municipal.
Minha primeira
filha, Tábatha, nasceu no ano de 1990.
Em 1998, após
ter casado com meu esposo Silvio e ser mão da Alline e do Thiago, fui trabalhar
na Escola Estadual Mário Spinelli, como professora de literatura, embora só
tivesse o segundo grau. Destaquei-me na disciplina e no convívio com os alunos.
Foi aí que decidi que precisava saber mais.
Prestei
vestibular para Letras na Unemat – Universidade Estadual do Mato Grosso e
comecei a cursar Letras no início de 1999.
No começo tive
algumas dificuldades por conta dos muitos anos fora da escola, pela diferença
de idade dos meus colegas e por ter que ir a cidade de Sinop-MT, distante
noventa quilômetros de Sorriso, todas as noites.
Meu esposo,
meus colegas e professores não deixaram que desistisse. Concluí o curso em
2003.
Estou
concluindo especialização em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira
na FACINTER e também fazendo mestrado na área de educação na FUNIBER – Fundação
Universitária Iberoamericana.
Faço, no
mínimo 240 horas de cursos por ano, sempre buscando fazer melhor o meu
trabalho.
Por sete anos
tive a franquia do KUMON INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, experiência que me fez repensar
a forma de ensinar.
Continuo a
trabalhar na Escola Mário Spinelli, amo o que faço.
Pretendo, após
o mestrado, trabalhar em uma universidade.
No ano passado
passei por uma separação. Hoje vivo com meu filho mais novo, Thiago de
dezesseis anos. Minha filha Alline, 18 anos, mora com o pai. Vemo-nos sempre.
Há vinte e
três anos em sorriso, além das atividades profissionais sempre atuei em minha
igreja em diversas pastorais. Penso que devemos por á serviço do outro os dons
que recebemos.
Gosto muuuuito
de ler, de assistir filmes com meus filhos, comendo pipoca e tomando tereré.
Também vamos ao cinema, pizzaria, dançamos, enfim, somos felizes.
Como boa
paranaense que sou também tomo chimarrão, na escola, com os vizinhos e amigos.
O chimarrão é o doce amargo que aproxima as pessoas.
Esse é o
relato da minha vida que estou compartilhando agora.